Bem-vindo, caro leitor! Este é um blog de notícias experimental, organizado por seis alunos do curso de jornalismo da UFES, 2º período. Neste local abordaremos temas relativos à população inserida à margem da sociedade.

Um canal em que todos podem se expressar abertamente, de forma igualitária e RESPEITOSA. Lembre-se: gritar é se expressar repentinamente, expondo as dores e as angústias. Esteja livre para compartilhar o seu grito.




domingo, 28 de março de 2010

CATADORES DE PAPEL: lixo, reciclagem e sustento


Os catadores de papel, nome comum para carrinheiros, que atuam na Grande Vitória recolhendo materiais recicláveis e sucatas para seu sustento, passam em diversos momentos por discriminação e preconceito nas ruas dos bairros onde trabalham. As reclamações feitas por esses trabalhadores são muitas, já que são vistos pela sociedade como mendigos e bandidos. O que não percebemos é que os catadores fazem também um trabalho de reciclagem, pois tiram proveito do que é jogado fora, aproveitando-se do que é considerado inútil.


Não existe uma convivência amigável entre os catadores e os moradores dos bairros. Essa é uma das principais reclamações, como relatou João Rodrigues da Silva, 44 anos: “Eu tô enfezado porque os outros ficam chamando a gente de mendigo. Nós trabalhamos. Mendigo é aquele que anda pedindo por aí, nós fazemos nossa reciclagem”.

Esse grupo de catadores costuma se encontrar pelas ruas da Grande Vitória e no bairro Ilha de Santa Maria, onde vendem os itens coletados para a sucata do Carioca, que tem como donos o senhor Gilson Carioca e sua esposa Fátima. A compra dos papéis e sucatas é feita por quilo e o preço pago é em torno de R$ 5,00 a R$ 10,00, dependendo do item e de sua quantidade. O ferro é o item mais rentável.

Os catadores que estão neste grupo agem como se fossem familiares, pois passam mais tempo entre si do que ao lado de sua real família, devido à extensa jornada de trabalho. Muitos deles sonham com a possibilidade de ajudar uns aos outros, como é o caso do catador Vicente Mendonça Costa, 54 anos: “Eu quero comprar uma terra, pra construir umas casinhas pros meus amigos de trabalho, porque eles são igual eu, né?!”.


Mesmo tendo consciência de exercerem uma profissão marginalizada pela população, os catadores a consideram digna de retirar o seu sustento e de sua família. O que vemos como lixo é considerado fonte de trabalho e renda para eles. São pessoas que sobrevivem com o que os outros não querem mais. Muitas vezes transformam e consertam o que acham para uso próprio.

Alem da discriminação sofrida, os catadores reclamam da falta de consciência da sociedade por não realizar a separação correta do lixo. Essa atitude prejudica aos catadores, pois há muita perda de tempo ao separar os itens recicláveis e, ao selecionar tais itens, acidentes são comuns, principalmente com produtos químicos e objetos perfurantes.


Mesmo com todos os problemas, os carrinheiros se acostumaram com a vida que levam. Buscam, até mesmo no trabalho, uma forma de se divertir parando em alguns momentos para tomar cachaça, jogar baralho e conversar, já que o dinheiro que ganham não permite muita coisa além disso.


Fotos e Texto por Raquel Malheiros

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quinta-feira, 25 de março de 2010

AUTONOMIA EM MÃOS

Por Reuber Diirr e Flávio Soeiro

A dificuldade de entrar no mercado de trabalho, exigente em qualificação, e os baixos salários vem criando uma grande quantidade de trabalhadores autônomos, que desenvolvem diversos meios para sustentarem suas famílias através de um ofício. Isso ocorre com muitos capixabas, como é o caso do ex-funcionário público e aposentado Joaquim Vieira, 64 anos.

Natural de Guarapari, Joaquim veio para Vitória aos nove anos e começou a trabalhar desde os dez como trocador de ônibus e, aos 18, tornou-se funcionário público pela PMV (Prefeitura Municipal de Vitória). Trabalhou até sua aposentadoria, há três anos, e durante sua carreira passou por vários órgãos do município. Ele conta e mostra uma carteirinha que foi um dos fundadores da SEMMA (Secretaria Municipal de Meio Ambiente).

Pai de sete filhos e com apenas o primeiro grau completo, Joaquim, depois de aposentado, passou a trabalhar com carrinhos de propaganda pelas ruas de Jardim da Penha. Segundo ele, seu trabalho é calmo e já lhe rendeu inúmeros amigos pelas redondezas, o que faz com que ele dedique-se mais ainda ao seu ofício. A única desvantagem é trabalhar em meio ao trânsito, pois existem muitos motoristas descuidados.

Além da caixa de alto-falantes, a bicicleta de Joaquim tem uma cobertura amarela, que serve de proteção contra o sol, o que chama a atenção das pessoas na rua. Joaquim coordena cerca de dez bicicletas, propriedades de sua mulher. Ele afirma que, mesmo em época de campanha eleitoral, prefere anunciar lojas e ser fiel aos seus antigos clientes.

Seu serviço de autônomo começa às 9h da manhã e termina às 18h. Segundo Joaquim, a época das festas de fim de ano é a melhor temporada para ganhar dinheiro, graças ao aumento da necessidade de anúncios.

Outro trabalhador autônomo que merece destaque é o feirante Vanderlei, 43 anos, que trabalha nesse ramo há 20 anos. Nascido em Ataléia, Minas Gerais, saiu de sua cidade e veio para o Espírito Santo em busca de um emprego, pois não havia muitas oportunidades em sua cidade natal. Com apenas o primeiro grau completo, logo viu que sua melhor oportunidade era se tornar um feirante.

Com a facilidade de ter horário e salário próprios, afirma com veemência que não passa dificuldades no exercício de seu trabalho. E, como um bom mineiro, diz que seu passatempo favorito é ir aos bares e à praia. Apesar da tranquilidade, ele acredita que é necessário mais segurança, pois em muitos casos os postos policiais ficam distantes do local de trabalho.

De acordo com o site G1 - veja a matéria aqui - os trabalhadores autônomos pagarão menos ao INSS, pois a alíquota reduziu dos 20% para os 11%. Por outro lado, ao reduzirem o valor pago à Previdência, só terão direito a receber um salário mínimo quando se aposentarem. Para receber mais de um salário, devem manter a taxa tradicional do tributo.

sexta-feira, 19 de março de 2010

O OUTRO LADO DA RUA: OS FLANELINHAS


Os guardadores de carro, popularmente conhecidos por flanelinhas , vivem uma realidade bastante diferente daquela que imaginamos. Nem todos são marrentos e indigentes. Alguns possuem até bens em seu próprio nome.

Como é o caso de Vanderlei F. Nascimento, de 43 anos. Flanelinha há 28 anos, é conhecido e querido por todos os comerciantes da Rua Anísio Fernandes Coelho, a Rua da Lama, em Jardim da Penha, onde atua há três anos.

Com o ensino fundamental incompleto, Vanderlei veio de João Neiva para Vitória em busca de uma vida melhor. Trabalha desde criança guardando carros. Pouco a pouco foi se aperfeiçoando. Uma de suas peculiaridades é um álbum de fotos dos carros que lava e guarda. Segundo ele, em apenas um dia de trabalho já conseguiu por volta de R$ 200,00. Toda a renda é para o sustento de sua esposa e de seus cinco filhos. Vanderlei afirma com orgulho que todos estão na escola. “Quero dar a eles tudo o que eu não tive”. Com o dinheiro que conseguiu ao longo de 28 anos de trabalho, Vanderlei construiu sua casa própria. Mas se engana quem pensa que Vanderlei só guarda carros; além disso, ele é porteiro noturno e faz trabalho voluntário a fim de ajudar crianças carentes. Questionado sobre a aposentadoria, o flanelinha é enfático: “Nunca vou conseguir parar”. Ele afirma nunca ter sido discriminado, mas acredita que a classe é sim alvo de preconceito por ter uma imagem de ladrões, viciados em álcool e drogas.

Esse é o caso de Renato P. Abreu, 36 anos, que confessa ter sido usuário de drogas e ter praticado pequenos furtos até pouco tempo atrás. Renato diz que foi Vanderlei quem o resgatou dessa vida ao convidá-lo para uma reunião em uma igreja evangélica. Hoje, segundo ele, não pratica mais furtos e nem usa drogas. Sua única fonte de renda vem da lavagem e da guarda de carros.

Leandro de Jesus, 50 anos, diz não forçar nenhum cliente a pagar, mas, segundo ele, todos pagam. “Ou quando não tem nada, voltam no outro dia com umas moedinhas”. Leandro ainda diz que as mulheres são sempre as mais generosas na hora da gorjeta.

Mas por que a sociedade vê a classe dos guardadores de carros com preconceito? De acordo com o soldado da PM, Luís, 38 anos, as pessoas confundem os flanelinhas, que possuem residência fixa, com os moradores de rua, os quais perturbam a ordem social. Tais pedintes aparecem somente em horários de maior movimento enquanto os guardadores permanecem em seu trabalho durante o dia todo. O PM ainda ratifica que praticamente não existem queixas dos flanelinhas por parte da população.

Mesmo com todo o trabalho de uma jornada de quase 12 horas, os flanelinhas ainda conseguem tempo para o lazer. Vanderlei, por exemplo, adora ir com os filhos e a esposa ao Parque Municipal da Pedra da Cebola nos domingos à tarde. Já Renato e Leandro aproveitam os dias de descanso para ir à igreja e assistir TV.


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Por Lila Nascimento

quarta-feira, 17 de março de 2010

SEGUNDA-FEIRA DE PROTESTOS CONTRA O GOVERNO CAPIXABA

Por João Carlos Fraga

Na manhã desta segunda-feira, dia 15, o Palácio Anchieta foi palco de protestos contra o governador Paulo Hartung de organizações sociais. Cerca de 200 pessoas estavam diante da Sede do Governo do Estado do Espírito Santo manifestando-se contra a situação desumana e a violação dos direitos humanos nos presídios capixabas.
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Ao mesmo tempo em que aconteciam os protestos em Vitória, às 10 horas da manhã, era apresentado em Genebra, Suíça, durante Reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, a situação caótica do sistema carcerário no Espírito Santo, segundo o que estava escrito nos panfletos entregue a população.

Cartazes com fotos das vítimas, cruzes além de uma faixa preta e outra roxa, representaram o luto e enfeitaram as escadarias em frente ao Palácio do Governo em um gesto simbólico de indignação das entidades com a precariedade do sistema carcerário estadual.

A imprensa também foi alvo dos protestos. Segundo o panfleto distribuído, os grandes veículos de comunicação capixaba põem-se em defesa do governo Paulo Hartung não publicando o que acontece dentro dos presídios. “Fomos nós que levamos as denúncias para a impressa de fora do Estado”, afirma a presidente da Associação de Mães e Famílias de Vítimas da Violência no ES (AMAFAVV/ES), Maria das Graças Nascimento Nacort, interrompendo a entrevista coletiva de Gilberto Ferreira, secretário do Conselho Estadual de Direitos Humanos do Espírito Santo, que dizia: “Aqui neste local foram pensadas as celas metálicas. Aqui foram pensadas as políticas que aprisionam 13 mil pessoas e foram capazes de esquartejar dez pessoas no ano passado. Aqui foram pensadas as ações que transformaram a Unis em um presídio”.

Com um microfone, algumas pessoas falaram ao público, dentre elas os próprios Gilberto Ferreira e Maria das Graças Nacort, além do padre Xavier Paolillo, coordenador da Pastoral do Menor no ES. O padre que apontou os abusos sofridos por menores da Unidade de Internação Socioeducativa de Cariacica (UNIS); Isaias Nascimento, do SINDIUPES; a deputada Brice Bragato, do PSOL; alguns professores de serviço social e de direito da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); todos com discursos contra o governador. Cada discurso era ovacionado por gritos de protesto e palmas dos presentes.

Às 11 horas, estudantes de direito e serviço social com faixas, gritos e leitura de uma carta condenando Paulo Hartung interditaram a Avenida Florentino Avidos por cerca de 15 minutos, criando um grande congestionamento.

EDITORIAL NO GRITO!

Prezados leitores, é através deste editorial que viemos enaltecer inúmeros acontecimentos. Ocorre que, de acordo com a matéria de TPJMI (Teorias e Práticas Jornalísticas para Meios Impressos) do curso de Jornalismo da Ufes, temos como objetivo a criação de um blog de notícias. Dessa maneira, formamos um grupo de quatro rapazes e duas moças: Flávio       Soeiro, João Carlos Fraga, Marília do Nascimento, Raquel Santos, Reuber Diirr e Wilderson Morais.

O fato mais curioso é que nosso grupo assimilou idéias voltadas ao cidadão que vive à margem da sociedade, ou seja, as pessoas que são desconsideradas, como flanelinhas, garis, lixeiros, prostitutas, homossexuais, trabalhadores autônomos bem como demais classes sociais que não entram nos parâmetros de uma casta hierarquizada, cheia de conceitos e pré-conceitos. Nosso blog tem um nome peculiar, chama-se ‘OO Grito’, pois será através dele que daremos vozes aos indivíduos que não tem espaço para mostrar sua força de expressão e falar de um lado que muitos desconsideram ou, até mesmo, fingem não ver. Nossa meta é expor o lado que muitos não sabem, não tem acesso e, por isso, tratam tal assunto de forma extremamente leviana. Os cidadãos devem ser respeitados e, devido a isso, buscamos ouvir qualquer indivíduo, por mais inexpressivo que ele pareça para a sociedade.

Diante dessas premissas, nós buscamos refletir sobre o principal motivo deste trabalho tão árduo, mas compensador devido ao objetivo final dessa ideia. Diante disso, nada melhor do que nossos colegas de trabalho para relatarem o que acham sobre tal ofício.

De acordo com João Carlos Fraga: “O que precisamos hoje é conhecer o outro lado daquilo que não queremos ver por causa do preconceito. Esse blog seria uma forma de tirarmos a cataratas sociais que impedem de enxergar que esse outro lado não é como imaginamos, uma face obscura. Com esse meio de divulgação, vamos quebrar aquilo que cega moralmente nossas mentes”.

Já Flávio Soeiro discorreu afirmando que é necessário ter blogs com esses temas como forma de quebrar os preconceitos: “Este blog mostrará uma realidade que a sociedade costuma ignorar. Para isso vamos tratar de assuntos para que certas pessoas que sofrem preconceito se sintam no direito de manifestarem a seu favor e revelem-se mais iguais a nós do que costumamos pensar”.

Da mesma forma, Marília do Nascimento disse: “Acho que é ótimo um blog tratando desses assuntos, porque, muitas vezes, a sociedade acaba não enxergando esses problemas sociais. Acaba ignorando-os. Por isso, nosso blog é um chamado pra sociedade olhar pelos esquecidos”. O intuito deste blog é mostrar, com outro olhar, o que vemos diariamente. As profissões e pessoas que não costumam despertar interesse para nós é fonte de questionamentos. Queremos dar voz às essas pessoas e que, neste blog, elas consigam se mostrar de forma diferente.

No mesmo caminho, Raquel Santos afirmou que: “O intuito deste blog é mostrar, com outro olhar, o que vemos diariamente. As profissões e pessoas que não costumam despertar interesse para nós é fonte de questionamentos. Queremos dar voz às pessoas e que, neste blog, elas consigam se mostrar de forma diferente”.

Nesse caminho, Wilderson reforçou a ideia: “Penso que este blog é mais um meio de mostrar a realidade das pessoas humildes, mas desejo que seja algo mais. Falar sobre os marginalizados da sociedade é algo comum entre os veículos de comunicação, mas creio que a nossa equipe deseja explorar outras maneiras de mostrar essa realidade, um modo mais eficiente. Mostrar é fácil, difícil é educar a população de maneira que essas pessoas sejam respeitadas. Penso que educar é algo que os meios de comunicação devem relevar em todos os sentidos”.

Sendo assim, buscaremos tratar o assunto de forma extremamente profissional e, além disso, abordar as várias faces do assunto, visando sempre expor o que a sociedade finge não ver e, assim, debater de forma consciente os reais problemas que envolvem nossa sociedade. Dessa maneira, faço das palavras acima, as minhas também. Desejamos uma boa leitura e que, neste blog, possamos criar soluções e desenvolver mais o espírito crítico perante nossa população, além disso, revelar o outro lado das situações.