Bem-vindo, caro leitor! Este é um blog de notícias experimental, organizado por seis alunos do curso de jornalismo da UFES, 2º período. Neste local abordaremos temas relativos à população inserida à margem da sociedade.

Um canal em que todos podem se expressar abertamente, de forma igualitária e RESPEITOSA. Lembre-se: gritar é se expressar repentinamente, expondo as dores e as angústias. Esteja livre para compartilhar o seu grito.




segunda-feira, 26 de abril de 2010

A fala do Ouvidor



Por Reuber Diirr e Wilderson Morais


Esta semana a entrevista é com o Ouvidor da Universidade Federal do Espírito Santo, o Prof°. Dr°. Carlos Vinicius Costa de Mendonça. Em um bate-papo, o Ouvidor esclareceu as funções de seu cargo, bem como as medidas tomadas para manter a funcionalidade e a ordem da autarquia. O Drº Carlos Vinicius conversou com a equipe do OO Grito explicando os diversos casos que ele deve analisar cautelosamente.

OO Grito: Como funciona a Ouvidoria?
Ouvidor: A Ouvidoria serve de elo de ligação entre as pessoas. Ela ouve a reclamação de ambas as partes, preservando-os. A função do Ouvidor é zelar pelo bom funcionamento da Universidade, seja no sentido político, seja no sentido moral. Quando um aluno ou professor vem à Ouvidoria fazer alguma queixa, o papel do Ouvidor é ouvir e fomentar uma conciliação entre as partes. A Ouvidoria tem a função de buscar atenuar as divergências que acontecem e, dessa maneira, manter as relações cordiais dentro do campus.

OO Grito: Como a Ouvidoria vê os grupos marginalizados na UFES? Exemplos: gays, emos, alunos de intercâmbio.
Ouvidor: A ouvidoria representa a instituição (UFES) e não tem interesse em fazer juízo de valor. Não existe na Universidade uma perspectiva de fazer leituras diferenciadas. Mas tais grupos sentem um peso maior, não exatamente uma marginalização. Entretanto, a ouvidoria não vê distinções.

OO Grito: A Ouvidoria já recebeu reclamações sobre homofobia, discriminação racial?
Ouvidor: Tais assuntos ainda não estão bem discutidos na sociedade. É evidente que determinadas posturas causem impacto. Tanto posturas heterossexuais quanto posturas homossexuais. Professores, principalmente os mais antigos, reclamam de demonstrações de afeto dentro das salas de aula. É evidente a complexidade do amor humano. Mas, para o ambiente ficar razoavelmente sociável, devemos ter normas e a Universidade, como meio acadêmico onde devemos pensar, sentir e agir, não sendo o lugar apropriado para tais atos de afetividade. Em relação à discriminação racial, não há muitos casos. O mais evidente é o assédio moral. Um professor veio à Ouvidoria reclamar sobre duas alunas que trocavam afetos em sala de aula. A Ouvidoria escutou as meninas que argumentaram ser de direito a troca de afetos, todavia, há lugares para tais atos serem realizados e a sala de aula não são apropriados.

OO Grito: O senhor já analisou reclamações de racismo?
Ouvidor: Já, mas pouco! Hoje não tanto mais. Pouco racial. O assédio moral é maior. O assédio moral está ligado nas relações que se tem com as pessoas, seja durante o trote onde um veterano extrapola os limites dos calouros.

OO Grito: Como a Ouvidoria vê o comércio dos ambulantes no campus da Universidade?
Ouvidor: A Universidade é pública e não pode excluir as pessoas de entrarem, entretanto, o público não significa ausência de gestão. As pessoas que exercem atividade comercial têm certa permissão de vender seus artesanatos. O problema existencial é o comercio ilegal.

OO Grito: Professor, em relação às drogas, qual a atitude que a Ouvidoria exerce sobre tal fato?
Ouvidor: Veja bem, isso não cabe à Ouvidoria. É um assunto que vocês podem obter mais informações com a segurança da Universidade. Nunca ninguém veio aqui reclamar sobre isso. Nem um traficante, nem um usuário (risos). Está ligada à Prefeitura da Ufes. Nós tínhamos um problema muito sério de vendas de passes dentro do campus, que era um problema complicado, todavia, já foi solucionado.

OO Grito: Sabemos que a Ouvidoria é contra o trote. Apesar disso, eles acontecem. O senhor recebe muitas reclamações por causa de tal atitude ilícita?
Ouvidor: Recebemos muitas reclamações. Existem resoluções na Universidade que proíbem o trote. Tais resoluções surgiram a partir de efeitos danosos nos alunos, danos físicos e psicológicos. A Universidade já foi processada por causa dos trotes. É proibido qualquer tipo de manifestação que represente uma violência física ou simbólica.

OO Grito: Qual a atitude que a Ouvidoria toma com os alunos infratores (que efetuam o trote)?
Ouvidor: O trabalho da Ouvidoria é de mediação. Nós mediamos. Há trotes em que os alunos dos cursos se vestem de travestis, circulando pela Universidade, ou vestidos de bebê, com fraudas, também há os alunos que pedem esmola; nós punimos de acordo com as resoluções vigentes. Já vi aluno chorar por causa de trotes. Tal ato ilícito se assemelhava aos campos de concentração no Afeganistão, era algo brutal, principalmente nos Centros Técnicos. Infelizmente, existem pessoas que têm prazer em humilhar os outros. Pais já ligaram reclamando da violência que seus filhos sofreram.

OO Grito: O Senhor é a favor dos trotes que são apenas brincadeiras, sem violência?
Ouvidor: Não. A Instituição deve construir uma recepção apropriada, construir uma sintonia com os Centros (Acadêmicos) no sentido de uma recepção lúdica. O ato do trote é algo medieval. Uma sociedade atada aos atos antiquados. A interface entre as brincadeiras somente para socializar e o autoritarismo são tênuas, ou seja, sugerem certa acepção à violência. Por essa razão, o trote é proibido na Universidade.



domingo, 25 de abril de 2010

Com AIDS é possível viver, com o preconceito não!

Por Lila Nascimento e João Carlos Fraga

O preconceito, para os portadores do vírus HIV, é algo que persiste desde os primeiros casos no Brasil na década de 80 até os dias atuais. Esse é o caso de Helena Almeida*, que contraiu a doença do marido há 19 anos e desde então é discriminada. “Certa vez fui almoçar na casa de uma amiga e, logo após a refeição, ela quebrou o prato, os talheres e o copo porque ninguém mais poderia comer ou beber neles.” Segundo a farmacêutica Francielle Vieira, isso acontece com frequência porque, mesmo com todas as informações e campanhas do governo, ainda há pessoas as quais pensam que podem contrair AIDS através de contatos físicos como o abraço e o aperto de mão e a saliva, como foi o caso de Helena.

Na contra mão dessas pessoas que têm preconceito, podemos citar o jornalista Zeca Camargo. No fim dos anos 80, quando era correspondente internacional do Jornal vespertino Folha da Tarde, entrevistou o cantor Cazuza em Nova York. Zeca conta no programa da Globo, Por Toda Minha Vida, exibido em março de 2009, que o cantor o desafiou a beber vinho na mesma taça que ele. “Cazuza imediatamente acendeu um cigarro e pediu vinho. O vinho chegou e ele se serviu e perguntou se eu queria tomar com ele. Respondi que sim e ele ofereceu da própria taça. Imediatamente eu tomei”.

“Não pedi para ter o que eu tenho”

Carolina da Silva* contraiu a doença da mãe. “Ela usava drogas e não sabia que era soropositivo quando engravidou de mim.” A jovem descobriu que era portadora do vírus HIV apenas quando estava com cinco anos. Apesar disso, nem sua família a poupou do preconceito. “Não acho justo eles terem preconceito comigo”. Carolina conta que, na infância, quase foi expulsa do colégio em que estudava devido ao preconceito das outras crianças e de seus pais. Mesmo com todos os percalços, ela se considera uma garota feliz. “Meu melhor amigo é Deus”, diz emocionada.

Governo incentiva campanha contra o preconceito

Segundo o psicólogo Luiz Fernando Magalhães, os portadores da AIDS sofrem mais com a rejeição e o preconceito do que com a própria doença. Por isso, o tema da campanha do Ministério da Saúde para o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS em 2009 foi o preconceito. O slogan escolhido “Viver com AIDS é possível. Com o preconceito não” enfatiza que quem vive com o HIV pode estudar, trabalhar e namorar como qualquer outra pessoa.

O material da campanha está disponível nos links abaixo:




*Os nomes foram alterados para a preservação das identidades das fontes.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Cremos no poder do indivíduo em superar suas próprias fraquezas" diz coordenador de projeto social


O entrevistado desta semana do blog OO Grito é o vice-presidente do Lar Batista Albertine Meador, Fernando Reis. Esse projeto acolhe crianças, adolescentes e jovens do sexo feminino em situação de risco social. Alem desse projeto, há outro em planejamento, o Projeto 19, que tem o objetivo de promover a prevenção ao risco social, nas comunidades em que se verifica o alto índice de desvio de crianças e adolescentes destes riscos.


OO Grito:  O que é e em que se baseia o projeto?
Fernando Reis: Nossa área geográfica de atuação é o município de Serra. De fato, o projeto não está voltado exclusivamente ao tratamento dos jovens usuários de drogas. Na verdade, atuamos acolhendo crianças, adolescentes e jovens em situação de risco social. Atualmente, o risco social está intrinsecamente ligado ao tráfico e/ou uso de drogas ilícitas ou lícitas, não somente no município; é uma realidade nacional.
No que se refere ao tratamento de residentes que estejam enfrentando o problema das drogas, oferecemos tratamento médico, psicológico, espiritual e conforto material, a fim de que possam se livrar do vício. Entendemos sempre o ser humano em sua plenitude, um conjunto matéria-alma- espírito (nem sempre nesta ordem, valha-me Marx!)
 
OO Grito:      Quando e como surgiu?
Reis: Completamos 60 anos de atuação ininterrupta em setembro de 2009. A instituição foi criada no âmbito da ação social cristã da Igreja Batista de Vitória, para atender uma comunidade carente em Vila Velha, nos idos de 1949, quando as necessidades eram outras. Um grupo de senhoras da igreja resolveu adotar uma comunidade afastada que carecia de cuidados básicos.

OO Grito:      Quem são os beneficiados?
Reis: Atualmente são 24 crianças e adolescentes entre 0-18 anos incompletos. Além delas, cerca de 50  outras pessoas adultas que atendemos no programa de reintegração familiar.

OO Grito:  Quem são os coordenadores?
Reis: Temos como presidente o Pastor Abel Scabello, 57 anos de idade e membro do conselho do Lar desde 2003. Eu sirvo como vice-presidente desde 2008 e estou no conselho desde 2004. Somos um total de 10 conselheiros, todos voluntários.


Adotamos a profissionalização de nossos serviços-fim. Para isso, desde 2006 temos uma equipe técnica full time e paga com os recursos da própria instituição. Nossa coordenadora geral é a Assistente Social Karla Mendes. Temos ainda na área de psicologia a Psicóloga Roberta, e á frente da área de assistência social, a Assistente Social Cíntia Lovati.


Contamos com uma área administrativa e de apoio, além das profissionais de atendimento pedagógico, de atenção intensiva, educadores e parcerias na área da assistência médica em geral. Porém, acolhemos com carinho e incentivamos o trabalho voluntário das dezenas de pessoas que se dispõem a cooperar conosco nas mais diversas áreas, em especial à atenção individualizada às menores residentes.

OO Grito:      Como o projeto se mantém?
Reis: Somos um dos projetos subsidiados pelo Estado, representado aqui pela Prefeitura Municipal da Serra. Hoje, cerca de 75% de nossos recursos financeiros para atendimento básico às internas vem da PMS através de sua Secretaria de Promoção Social. Além disso, recebemos doações econômicas vindas de parceiros como o Mesa Brasil, do SESI (alimentos). Algumas empresas patrocinam ações pontuais e/ou contínuas. Também contamos com igrejas cristãs que colaboram mensalmente conosco, seja através de doações de bens, seja contribuição financeira.

Finalmente, captamos recursos através de projetos que fazemos com fins específicos junto a patrocinadores como bancos, empresas estatais, e outras do setor privado.


Como instituição do terceiro setor, temos todos os certificados da área, registros nos órgãos de controle, e toda contabilidade em dia. O Ministério Público é nosso interlocutor com freqüência.
 
OO Grito:      Por que ajudar essas pessoas?
Reis: A vocação da instituição, desde sua nascença, tem sido “investir em vidas”. Cremos que todos fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Cremos no poder do indivíduo em superar suas próprias fraquezas (circunstanciais ou não). Temos visto, ao longo de anos, a superação do indivíduo a dificuldades mais diversas.


Sabemos que as drogas atuam no mais difícil território para recuperar, o cérebro, o sistema nervoso como um todo. Ao mesmo tempo, sabemos por experiência que se tratarmos o indivíduo com a estratégia ideal, com os cuidados direcionados, este sujeito poderá se recuperar e tornar-se cidadão com todos os direitos e deveres, útil à sociedade, protagonista de si mesmo, testemunha de que é possível ir adiante mesmo tendo conhecido o inferno.


OO Grito:      Você acha que o poder público é omisso em relação aos dependentes químicos?
Reis: Não. Existem ações contínuas em relação ao problema, patrocinadas e/ou incentivadas pelo Estado. O que ocorre é que a velocidade do Estado, ou do “poder público”, deixa a desejar em face das urgentes demandas deste público ‘dependente químico’. A velocidade que menciono é em relação a tudo: pesquisa, evolução, rede de atendimento, atividades de prevenção, processos licitatórios, percepção do custo invisível que está vinculado à utilização da rede de saúde pública de maneira intensiva e inadequada etc.

Neste contexto, entram as ONGs e OSCIPs, cujo trabalho deveria proporcionar tal velocidade em parceria (e nunca em substituição) ao ‘poder público’. Acredito que esta dita omissão é enxergada pela sociedade como um espelho de si mesma: seria ótimo que o Estado pudesse substituir a sociedade (conjunto de nós todos) na prevenção e cuidado que o problema apresenta e requer. Isso é mito: jamais o Estado conseguirá substituir a própria sociedade na resolução das questões vinculadas ao uso – e abuso - de drogas lícitas/ilícitas.


Um ponto importante a refletir é que os agentes estatais (representantes do Estado), via de regra, devem se dedicar ao movimento político em meio a todos os trabalhos demandados pelos cidadãos. Tal movimento traz consigo o natural interesse deste agente, que na maioria das vezes tem seu horizonte nos próximos 4 anos. As atividades das quais estamos falando, não podem (não deveriam) sofrer solução de continuidade mesmo nas políticas e diretrizes de atendimento.


Muitas vezes, isto também está à mercê do interesse temporal vinculado ao agente político. É errado imaginar que somente o público-alvo sofre com esta realidade: todos, como sociedade, sofremos, direta ou indiretamente, as conseqüências do sistema.

OO Grito:      Quais as dificuldades encontradas pelo projeto?
Reis: Dificuldades vinculadas ao apoio da rede de atendimento são as mais sérias, no contexto da efetiva prestação de serviços que fazemos. Na área de recursos financeiros, a dependência ainda muito grande do Estado, é sempre – em nossa avaliação – um risco e temos trabalhado para diminuir esta dependência.

OO Grito:      O projeto recebe apoio da comunidade?
Reis: Sim, somos constantemente apoiados pela comunidade, temos uma relação de cooperação com nossos vizinhos, somos gratos a isso.
  
OO Grito:  Como o jovem é inserido no projeto?
Reis: Todas as internas são encaminhadas pela Justiça através das Varas da Infância e Juventude do município. Quando é o caso de dependente químico, oferecemos o tratamento.
 
OO Grito:  Como se dá a inserção do jovem na sociedade?
Reis: Tratamos as residentes da forma mais normal possível, todas tendo acesso a escola, vida social, educação, acompanhamento psicológico, médico etc. A equipe está sempre atenta a situações individuais e estamos preparados para qualquer necessidade especial que possam requerer. De acordo com a avaliação individual, são encaminhadas para atividades sociais dentro de seu espectro atual de vivência.

OO Grito:  Qual a situação psicológica do jovem quando entra e quando sai do projeto?
Reis: Varia muito, mas em geral quando chegam, as adolescentes estão assustadas, feridas, retraídas, algumas revoltadas e rebeldes. Doentes da alma, com a motivação destruída, ‘duvidando do mundo’. A saída do projeto geralmente está condicionada ao retorno à própria família progenitora, ou à adoção.


Na maioria das vezes temos tempo de tratar a pessoa, e quando é este o caso, podemos afirmar que reconstruímos sua atitude em relação ao mundo. Uma atitude positiva e de protagonismo em relação a si mesma. Um bom recomeço. Porém, nem sempre é assim, e temos casos de recaída ou casos em que o futuro da egressa não está assegurado.
 
OO Grito:  Conte-nos alguns casos interessantes de pessoas ajudadas pelo projeto
Reis: Recentemente, recebemos a visita de uma egressa que esteve conosco por 3 anos. Ao final de sua internação foi aprovada para um curso superior em Universidade Pública (oferecemos, em parceria com uma Instituição de ensino, o chamado “cursinho”). Esta egressa hoje é professora e constituiu família.

Outro caso foi de uma egressa, para a qual conseguimos um emprego compatível com suas habilidades, pouco antes de ela deixar a instituição. Passados uns 6 meses, ela esteve conosco novamente, para contar as novidades: saiu do emprego, juntou-se a um rapaz motoboy, está grávida e “feliz”.


Para 3 irmãs que chegaram ainda muito jovens, conseguimos tramitar uma adoção internacional para todas juntas; estão na Itália e gozam de saúde e paz, se correspondendo conosco periodicamente, com a participação dos pais adotivos.


A lição é clara: o que farão de suas vidas, não sabemos, não podemos ter certeza. Buscamos oferecer a todas elas uma visão clara de que é possível fazer diferente, existem outros caminhos e caberá a elas a escolha.
 
OO Grito:  Qual sua posição sobre a legalização das drogas?
Reis: Por principio, sou contra a legalização das drogas. E vou além: as drogas hoje lícitas deveriam ser muito mais fiscalizadas, porque são porta de entrada para o vício evolutivo até as drogas mais pesadas e destrutivas. Confiar apenas na ‘vontade individual’ do ser humano é escolher ser inocente, é desconhecer a força econômica dos cartéis da droga (bebidas alcoólicas incluídas).

Um programa amplo de educação que jamais terminasse, voltado a todas as populações jovens (e não somente às camadas sociais ditas ‘menos favorecidas’), educando-as em relação ao consumo de drogas e seus efeitos, poderia surtir efeito em uma geração, ou seja, num horizonte de 30 anos.

Ao mesmo tempo, as políticas públicas aliadas das comunidades, tendo como centro a valorização do próprio espaço comunitário local para a solução dos problemas daquela comunidade em questão, poderia ser uma boa iniciativa para coibir as tentativas dos traficantes de ‘dominar a área’. Isso, infelizmente, dá muito trabalho e nossa sociedade prefere dizer que o ‘poder público é omisso’.


Enquanto isso, varremos para debaixo do tapete os horrores da omissão, que é nossa. E colocamos nas manchetes dos jornais que lá em José de Anchieta traficantes mataram mais um. “Ah que violência absurda! Secretário Rodney, que absurdo!”  - e por aí vai.

O problema não é que as drogas sejam ilegais: o problema é que não queremos ter o trabalho de educar. Custa tempo/dinheiro/emoção/amor, bens escassos na era do século XXI, pobres de nós todos.

Eles não querem abandono

Até 2025, o Brasil será o sexto país no mundo com o maior número de pessoas idosas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Hoje, o país conta com 14,5 milhões de idosos, 8,6 % da população do país (dados do IBGE). Parte deles está distribuída em asilos, alguns abandonados pela família.

A fisioterapeuta Priscila Alves Gomes, 29, trabalha no asilo Sociedade de Assistência à Velhice Desamparada há dois anos. “Por se tratar de uma instituição pública, sobrevive de doações e para que o idoso possa entrar é necessário que ele receba o benefício da aposentadoria e, mesmo assim, não conseguem comprar os próprios remédios”, diz a fisioterapeuta. Ao perguntarmos sobre o que mais falta no local, ela responde que é necessária mais verba para melhorar as condições dos idosos. Priscila também afirma que muitos residentes não recebem visitas dos familiares.

A infra-estrutura do asilo é boa. Possui refeitório, dormitórios femininos e masculinos, enfermaria, capela, cozinha e diversos outros cômodos. Tudo em bom estado. Apesar disso, a fisioterapeuta é enfática: “Ainda falta muita coisa. Vocês deveriam visitar um asilo particular, lá é muito melhor”.

Conheça os moradores do local

José Firmino, 80, mora no asilo há 18 anos. “O tratamento aqui é muito bom e todos são amigos”, diz José. Ele diz que o passatempo dos moradores do asilo é conversar, assistir televisão, jogar baralho ou dominó. Algumas vezes o asilo realiza passeios para os idosos. Os lugares visitados são o Convento da Penha, Guarapari e outras localidades. O senhor ainda relata que o idoso sofre preconceito pois perde a autoconfiança, deixando de fazer as coisas por si só.

Marconde é natural de Ilhéus, Bahia. Pescador de profissão, lembra perfeitamente a data em que chegou ao asilo, 23/03/2005, portanto já faz cinco anos. Sua idade atual é de 80 anos. “Sou uma pessoa quieta e calma”, diz ele. O passatempo predileto do senhor é jogar dominó. Assiste pouca televisão. O que mais gostaria de fazer é poder pescar novamente. “Não posso pescar, o médico proibiu”, diz ele. Na opinião de Marconde, os idosos são muito discriminados pois, às vezes, não conseguem fazer muitas coisas sozinhos.

Laira Gonçalves, 29, estudante de Administração, foi pela primeira vez visitar seu avô, Júlio Nunes Gonçalves. De acordo com ela, Júlio foi deixado no local por necessidade, pois ele vivia com uma tia que possuía problemas de saúde e não tinha condições de ajudar e cuidar dele. Ela relata também que desde que seu avô chegou ao asilo na quarta-feira, dia 14 de abril, ele diz que é melhor viver por ali. Laira comenta que o tratamento desigual dado aos idosos é originado pelo sistema capitalista. “Como os idosos não conseguem mais produzir, eles são afastados para que não possam atrapalhar as pessoas que ainda podem exercer algum trabalho”, diz a estudante.

A estudante de Ciências Contábeis, Mariana Melo, 18, diz que nunca deixaria sua mãe em um asilo: “Ela não iria gostar de lá. Acho que ela não merece isso. O lugar dela é com a família”. A jovem ainda relata que pagaria alguém para cuidar de sua mãe em casa, se fosse necessário.

Nossa equipe de reportagem proporcionou muitos sorrisos aos idosos do asilo. Tudo através de simples conversas, um pouquinho de atenção prestada. Recomendamos uma visita à Sociedade de Assistência à Velhice. O horário é das 14:00 às 18:00, de segunda à domingo.

Endereço: Rua Anselmo Serrat, 250, Jucutuquara, Vitória – ES (atrás da FAESA, campus de Jucutuquara)
Telefone para contato: 33232929 (informações e doações)


Por Flávio Soeiro e Wilderson Morais
Fotos por Wilderson Morais

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Projeto social abre as portas para o futuro

A Escola de Samba capixaba Mocidade Unida da Glória (MUG) volta sua atenção ao presente com um projeto social que busca ensinar às crianças da comunidade, alguns ofícios vinculados ao samba. Criado em 2004, o Projeto MUG do Futuro está localizado na quadra da MUG, em Vila Velha (ES), e oferece oficinas de dança e percussão aos menores da região da Glória tendo como finalidade arrebatar contingente para seu elenco, tirando os menores dos perigos da criminalidade. O vice-presidente da escola, Arnaud Agostinho Cordeiro Filho, revela os objetivos futuros da MUG.

O Projeto MUG do Futuro, criado há seis anos, teve sua origem de forma curiosa. No período carnavalesco cerca de 120 pessoas da escola levavam seus filhos para a quadra e, assim, acabavam aumentando a quantidade de pessoas na quadra da escola. Perante isso, outro aspecto observado pela agremiação era a diminuição das pessoas no elenco da mesma. Partindo dessa premissa, a escola criou o Projeto MUG do Futuro, como forma de dar oportunidade aos menores e abrir-se à comunidade. O Projeto funciona na quadra da Mocidade, que comporta cerca de quatro mil pessoas e atende aos bairros do Aribiri, D. João Batista, Glória e Jaburu que são localidades carentes e, por isso, tais crianças podem estar mais sujeitas à criminalidade. Inicialmente o Projeto contava com 25 alunos passando para 43 e, de 2009 em diante, conta com 86 integrantes que estão dentro de uma faixa-etária entre nove e 15 anos.

O MUG do Futuro recebe os jovens todos os sábados, das oito ao meio-dia e oferece café-da-manhã (fornecido por parceiros que preferem não ser divulgados), além disso, tem oficinas de dança, com aulas de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, oficinas de música, e os jovens fazem aulas de percussão na própria Bateria da MUG. Dessa forma o Projeto encaminha cada criança de acordo com sua afinidade ou talento, após uma triagem. Essa ideia tenta trazer as crianças para dentro da escola de Samba, ficando por toda a manhã de sábado, onde, é realizada uma análise sobre a criança: os responsáveis observam se o adolescente estuda (caso contrário, não participa) e se possui uma boa convivência social. Isso ocorre, pois, o Projeto desenvolve passeios às grandes empresas e, para isso, é necessário ter os requisitos citados, já que o Projeto ressalta a importância do convívio social para a vida.

Atualmente, a MUG conta com 25 ritmistas que tocam e desfilam no carnaval. A MUG oferece um aprendizado aos jovens que, demonstrando interesse, são aproveitados. Um exemplo disso é o terceiro casal de Porta-Bandeira e a segunda Porta-Bandeira oficial, que vieram do Projeto. Além das oficinas, o Projeto recebeu uma doação de 20 computadores da Caixa Econômica Federal para a criação de um laboratório de informática, originando uma escolinha, que começará no próximo mês de maio. A escola objetiva promover a inclusão digital, privilegiando além das crianças, a terceira idade. Foram criadas faixas-etárias nos três turnos do dia, além da ideia de implementação de uma lan-house dentro da MUG para que essas pessoas possam usar os computadores como ferramentas de pesquisa, inclusive durante os finais de semana.

A procura é grande, porém, há uma pré-seleção para participar do projeto havendo uma prioridade para as crianças que moram em bairros próximos à quadra da Escola de Samba (Aribiri, D. João Batista, Glória e Jaburu) pelo fato de não existir voluntariado para coordenar as oficinas. Para tornar-se um voluntário, basta apenas chegar à quadra e dizer no que contribuir. Nesses seis anos de existência, cerca de 200 jovens já passaram pelo projeto.

Diante de tantas atividades, a comunidade apóia e os pais incentivam a ida de seus filhos ao projeto, já que são pessoas da própria comunidade que aprendem a cantar, dançar, escrever e até informática, sendo inseridas na própria MUG como futuros instrutores. Mesmo dentro da Escola de Samba, o Projeto sofreu algumas dificuldades com as drogas. Houve dois casos em que os jovens não aceitaram largar as drogas e o Projeto optou por retirá-los do convívio com os demais, por causarem ‘perigo’. O Projeto MUG do Futuro encontra-se de férias, pois, desde novembro de 2009 houve uma pausa para os preparativos carnavalescos, além do período de férias e, com o término das festividades do Convento da Penha, o projeto retoma suas atividades no mês de maio, por a escola ter todo um critério religioso, nesse período de quaresma.

O Projeto está aberto para novas parcerias, inclusive com outras agremiações, como forma de aumentar o alcance do mesmo. A MUG começou com um projeto social para adolescentes, mas pode evoluir para melhoria qualitativa da comunidade. Partindo dessa ideia, a Escola de Samba capixaba abre suas portas. “Escola de Samba não é somente carnaval, uma vez que ela deve ter, por obrigação, outra afinidade social”, disse Arnaud.


Por Reuber Diirr.

Entrevista com o advogado Delço Ferreira de Souza

O objetivo do nosso blog é dar voz àqueles que não têm vez. Sendo este espaço democrático, também damos a chance para os outros segmentos da sociedade se manifestarem. Hoje, entrevistaremos Delço Ferreira de Souza, sociólogo, professor e advogado [OAB - n 5.427 - Seção ES]. Em entrevista concedida a repórter Lila Nascimento, Delço culpa a sociedade, mas, principalmente o sistema econômico pelo processo de marginalização do indivíduo. Confira essas e outras afirmações na entrevista abaixo.



OO Grito: Qual seria a definição para uma "pessoa marginalizada"?
Delço: Marginalização vem de “estar à margem”, isto é, no caso da pessoa marginalizada, é de não participar da vida social como um todo, sendo negada a ela direitos que somente uma parte privilegiada da sociedade detém.

OO Grito: Qual o fenômeno responsável por essa marginalização? Vem da sociedade, do próprio indivíduo ou do sistema econômico vigente?
Delço: Creio que parte vem da sociedade, pouco do indivíduo e a maior parte do sistema econômico vigente. Como, por exemplo, a má distribuição de renda, que gera marginalizados que não podem pagar pelos serviços oferecidos.

OO Grito: Quais atitudes devemos esperar dessas pessoas marginalizadas?
Delço: Deveria-se esperar a luta pelos seus direitos de maneira mais tangível. Mas, infelizmente, espera-se somente a criminalização, pois por quererem se fazer iguais aos que detém o poder de elite, partem para o crime, pela facilidade de ganhos que este oferece.

OO Grito: Você acredita que isso possa ser revertido através de projetos sociais e/ou políticas públicas?
Delço: Absolutamente. O poder público, através de políticas e projetos direcionados, conseguiria reverter isso, já que possui a máquina para educação da população e da melhora da distribuição de renda, principais problemas que geram a marginalização.

OO Grito: Na sua opinião, por que as pessoas discriminam as outras?
Delço: Por medo e por pré-conceitos gerados antecipadamente. O estereótipo que prepondera na mente das pessoas é de que o menos favorecido tende ao crime, e que, se não se encaixa ao perfil social “adequado”, é excluído daquele meio automaticamente. Ainda, o constante crescimento da violência nos grandes centros contribui para o aumento do preconceito e da discriminação, pela generalização.

OO Grito: Qual a função da lei contra a desigualdade social?
Delço: Na democracia, o governo age livremente na pauta das leis em vigor, mas o povo a fiscaliza e julga por eleições e plebiscitos. A lei serve para tentar dirimir essas discrepâncias no seio da sociedade.

Feliz ao Modo Natural

Os padrões de beleza estabelecidos pela sociedade fogem do que realmente pode ser atingido pela maior parte da população. A magreza ou os considerados “malhados” que vemos diariamente nas revistas e televisão são intitulados perfeitos modelos a serem seguidos. Esse culto ao perfeito, estimulado pela mídia, afeta principalmente as mulheres, mas já é possível perceber a mudança no comportamento masculino em relação a este assunto.

Problema Mundial
Este tema não é um problema presente somente no Brasil. Uma pesquisa, encomendada pela empresa Dove, foi realizada em vários países e revela que o percentual de pessoas que gostaria de mudar algo em seu corpo chega até 90%, sendo a cirurgia plástica um dos principais métodos para mudar o corpo.

Com a cobrança de um corpo que siga padrões estipulados, as pessoas que não se encaixam nesse perfil muitas vezes passam por questionamentos do tipo “por que você não emagrece?” ou “por que não alisa seus cabelos cacheados?” Em várias situações, é perceptível a forma preconceituosa como são vistas essas pessoas, pois, se você é diferente, não se encaixa no perfil ideal.


Eles são felizes à sua maneira
Na contra mão dessa cobrança, é possível sim encontrar pessoas que são felizes mesmo não se encaixando no modelo de beleza que a sociedade impõe. É o caso de Fabrícia Xavier, 27 anos, Daniely Fernandes, 26 anos e Mateus Gurtler, 23 anos, que fazem parte do grupo que é feliz do modo que são sem se importar com padrões ou modelos pré-definidos por uma sociedade.

Fabrícia Xavier, também conhecida como Bia, não se importar com seus quilinhos extras e seus cabelos cacheados: “Me considero bonita dessa forma”, afirma Bia. E isso pode ser percebido pela vida social que ela leva, apesar de trabalhar muito, sua fé e lazer não são esquecidos. Bia é católica praticante e baladeira das boas também. Sua única preocupação é com a sua saúde: “porque é com isso que devemos realmente nos importar”, diz Bia. Daniely Fernandes, também faz parte, juntamente com Bia, das pessoas que não são magras, mas são de bem com a vida. O que realmente importa para ela é o bem estar de sua família. Daniely é casada e tem um filho.

E como os homens não escapam dessa cobrança, Mateus Gurtler prefere não perder tempo com os modelos exigidos: “Todos querem ser do mesmo jeito, não quero ser cópia de algo” destaca. O que percebemos, então, é que existe sim uma resistência para que não haja uma padronização de indivíduos, como cita um de nossos entrevistados.

O importante é que cada um possa viver e ser aceito da forma que é, sendo gordo, magro, alto, baixo, branco ou negro, tendo cabelos lisos ou cacheados. Esses, definitivamente, não devem ser requisitos para fazer parte de uma sociedade e/ou ser excluído dela.

Por Raquel Malheiros
Fotos: arquivo pessoal de Fabrícia Xavier e de Mateus Gurtler

Encontro de jovens no píer do Shopping Vitória

Grupos de jovens das mais variadas opções sexuais e estilos se encontram no píer da capital, atrás do Shopping Vitória.

Há um público distinto, seleto, fiel e que todos os sábados estão presentes nesta reunião “particular”. Esse público é bem diversificado. São gays, lésbicas, bissexuais, góticos, emos e diversos outros grupos com seus próprios estilos e crenças.

Apesar de toda a descontração dos jovens, o local não é propício, pois a iluminação é péssima e o local não oferece uma infra-estrutura para receber essas reuniões; falta segurança, por exemplo. Como alguns disseram, faltam ambientes adequados na cidade para que os grupos de jovens possam se reunir.

O vendedor Marcio Rafael diz: “Eles estão reunidos aqui (no píer) há mais de dois anos, mas antigamente era na praça dos desejos, na praça dos namorados, daí vieram pra cá”. Indagado sobre o porquê de tanta gente no local, ele disse que há muita divulgação boca a boca.

A maioria dos jovens que vão ao local tem entre 15 a 25 anos. E se reúnem ali para encontrarem os amigos e se divertirem. Uma jovem, de 22 anos, que não quis se identificar, diz: “Reunimos um grupo de amigos aqui para ficar conversando, rindo do pessoal fazendo palhaçadas (brincadeiras), porque esse é um ambiente totalmente diferente, não há preconceito aqui e nós nos encaixamos”.

Problemas com a segurança

Muitas pessoas que se reúnem no local reclamam de um grupo de funkeiros, os quais estão ali apenas para fazer baderna. Muitas vezes, a baderna dá lugar a assaltos e agressões. “Já vi alguns casos de agressão verbal por causa das diferenças”, declara o vendedor Marcio.

Um jovem “new metal”, que não quis identificar-se afirmou “Se você for para um lugar mais escuro eles já te olham e te seguem, com a intenção de te roubar e levar tudo. Mas no dia em que me assaltaram eu só tinha o dinheiro da passagem e por isso me bateram muito”.

Outros disseram já terem sofrido espancamento pelos funkeiros. “Fui ao banheiro e eles me seguiram. Foram logo enfiando a mão no meu bolso, eu ainda tentei correr, mas chutaram minha perna. Eu caí e grupo começou a me espancar”, relatou um jovem.

Ao tentar falar com um grupo de funkeiros presentes no local, nossa equipe não obteve resposta, já que eles se recusaram a dar entrevista. Observamos, então, que os jovens nos observavam de uma forma instigante e que tiravam fotos. Obtivemos relatos de que isso é uma tática de gravar a imagem da pessoa a qual eles vão assaltar da próxima vez.

Por João Carlos Fraga, Reuber Diirr, Polânia Soares

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