Bem-vindo, caro leitor! Este é um blog de notícias experimental, organizado por seis alunos do curso de jornalismo da UFES, 2º período. Neste local abordaremos temas relativos à população inserida à margem da sociedade.

Um canal em que todos podem se expressar abertamente, de forma igualitária e RESPEITOSA. Lembre-se: gritar é se expressar repentinamente, expondo as dores e as angústias. Esteja livre para compartilhar o seu grito.




segunda-feira, 24 de maio de 2010

Um gole de lucidez

Esta semana, OO Grito entrevistará o ex-alcoólatra Luiz Carlos Ferreira, aluno de Publicidade e Propaganda da Ufes. Luiz atendeu nossa equipe e respondeu às perguntas de forma tranqüila e segura. Usando seu tom irônico, relata seu primeiro contato com as bebidas, sua dependência e como superou tal vício.

OO Grito: O que levou você a começar a beber?
Há vários motivos que me levaram a beber: em primeiro lugar vieram as festas de família no Natal e no Ano Novo; em segundo, comecei a beber para ficar mais desinibido em festas; e, depois, para acompanhar colegas. Com fama de ‘louco’ no bairro, curti muito, devo o meu jeito de interpretar o mundo a eles, mas tudo em excesso é maléfico.

 OO Grito: Quais as sensações que você sentia quando consumia álcool?
Bem estar e vontade de se expressar.

OO Grito: Qual foi o motivo principal que o fez parar de beber?
No inicio é muito legal, virar noites bebendo, ‘pegação’, drogas, momentos inesquecíveis, mas chega um ponto que seu organismo e sua mente não agüentam esse ritmo. Com o tempo, a impressão é que as posições se invertem. Não era mais eu que consumia a bebida e o momento. Eu dependia obstinadamente de beber, não mais para ficar alegre, mas para anestesiar minhas angústias e frustrações. Nesse sentido, comecei a agredir quem estava perto de mim. Nos dias posteriores aos porres eu me envergonhava com as situações. Perdi relações com pessoas muito legais por  isso.

OO Grito: Qual a diferença entre quando você bebia e agora, sem álcool?
A diferença é que agora estou mais calmo, sem disfunção, mais introspectivo e caseiro.

OO Grito: O que as outras pessoas falavam quando você bebia? Havia discriminação?
No início, ficava meio extrovertido, engraçado, as pessoas gostavam de mim. Com o tempo, as coisas foram ficando mais pesadas, críticas vinham de todos os lados. Pela frente é muito difícil alguém falar de você. Discriminação sempre existiu, já dizia um filosofo do absolutismo: “O homem é o lobo do próprio homem”.

OO Grito: Costumava gastar muito com bebidas?
Muito. Gastava meu salário quase todo com bebidas e ‘zoação’

OO Grito: Sente algum efeito provocado pela bebida?
Não. Raramente a bebida deixa algum sintoma em ex-alcoólatras.

OO Grito: Sente falta do álcool em seu organismo? Tem vontade de voltar a beber?
Às vezes sim, geralmente em momentos de euforia.

OO Grito: Tem receio de ter uma recaída?
Sim, geralmente em festas em que a consumação é liberada.

OO Grito: O que te faz não ingerir novamente qualquer bebida alcoólica?
Orgulho.

OO Grito: Atualmente, você bebe?
Não, o amanhã quem sabe!

OO Grito: Freqüentou algum grupo de ajuda, como Alcoólicos Anônimos?
Não.

OO Grito: Após beber, o que sentia: vergonha, arrependimento?
Depende do que eu fazia no dia anterior, mas mesmo não fazendo nada, eu ficava deprimido.

OO Grito: As pessoas realmente acreditam na sua recuperação?
Creio que sim.

OO Grito: As pessoas evitam beber perto de você para que não beba? Caso responda Sim, o que sente?
Não evitam, mesmo por que eu evito ambientes onde as pessoas bebem.

domingo, 23 de maio de 2010

Alunos especiais: integrar para socializar – Parte 3 (útlima parte)

Esta é a terceira parte da reportagem sobre a inserção de alunos com necessidades especiais nas salas de aula. Nessa última parte, mostraremos como o trabalho com os deficientes visuais.

A linguagem

Os deficientes visuais utilizam o braile como forma de registro escrito. É uma forma de comunicação baseada no alfabeto, o mesmo utilizado pelos não deficientes. São combinações de seis pontos, em alto relevo, em que cada combinação corresponderá a uma letra do alfabeto ou número. Em suma, braile é língua portuguesa.

Material de apoio

“Tem deficientes que rejeitam o braile”, diz Jair Antônio Marquioli, professor de história e bacharel em direito. “Outros rejeitam a bengala, o instrumento de locomoção. Os motivos são vários. Alguns têm rejeição natural, outros se negam a aprender por ouvir falar mal da bengala ou do braile, a partir de outros deficientes visuais”. Aprender o braile e as técnicas de locomoção é essencial para a inclusão do deficiente no ambiente escolar. “Os alunos fazem a prova em braile. Eu transformo para o alfabeto comum e os professores podem corrigir as provas”, diz Maria da Penha, professora de deficiência visual do CAP (Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual).

A sala de aula

Muitos deficientes visuais são discriminados em sala de aula. “Os professores ignoram, fingem não ouvir as perguntas”, diz Jair. “Já pensei em fazer mestrado, mas essa situação me incomoda. Alguns professores não dão a mínima pra você. Eles te ignoram”, completa.

As ferramentas

A reglete é um instrumento manual para a escrita do braile, em que os pontos em alto relevo são feitos no papel. É o mais antigo e simples.

Reglete

A máquina Perkins tem uma pequena semelhança com a máquina de escrever. Essa ferramenta escreve em braile. O deficiente utiliza as teclas e o braile vai sendo inserido na folha.

Máquina Perkins

O notebook, fornecido pelo MEC, é a inovação. “O aluno escolhe. Eu, por exemplo, prefiro a reglete. Até porque passei toda a minha graduação utilizando a reglete”, diz Jair.

O aluno escolhe qual instrumento deseja levar para a sala de aula.

Também existe o DOSVOX, um programa de computador que lê arquivos de texto. Foi desenvolvido pelo núcleo de computação eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “A maioria dos cegos que não querem aprender braile pensam que o DOSVOX irá resolver todos os problemas”, diz Jair. “Isso não é verdade, não há como aprender matemática, química e física com o DOSVOX. O braile é essencial”, completa.

DOSVOX

O centro de apoio

O Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual, CAP, ajuda a inserção dos deficientes visuais na sala de aula, ensinando-os braile e ministrando aulas de locomoção, em que eles aprendem a utilizar a bengala e a andar por conta própria.

O governo pretende mudar o centro de lugar, concentrando o apoio a todos os tipos de deficientes: cadeirantes, auditivos e visuais. “Não vai dar certo. Vai concentrar muitos deficientes em um mesmo lugar. As empresas de transporte não verão com bons olhos”, diz Jair.

O governo quer que o centro funcione apenas para a produção de livros. Isso deixaria os cegos sem um ambiente para aulas de locomoção e braile. “Nós fazemos esse trabalho aqui de teimoso”, diz Jair, já que o centro deveria apenas produzir livros em braile e não prestar assistência ao deficiente.

Apuração por João Carlos e Wilderson Morais
Texto e fotos por Wilderson Morais
Edição por Lila Nascimento

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Alunos especiais: integrar para socializar – Parte 2

Por João Carlos Fraga


Esta é a segunda parte da reportagem sobre a inserção de alunos com necessidades especiais nas salas de aula. Mostraremos como é o trabalho das escolas com alunos deficientes auditivos. 

 Os alunos deficientes auditivos

Sabia que a língua brasileira de sinais (LIBRAS) é totalmente diferente do português? E que essa língua é regulamentada por lei?
A linguagem brasileira de sinais é bastante diferente da língua portuguesa. Ela tem uma estrutura própria. Segundo a Professora de Deficiência Visual da Prefeitura da Serra, Alice Leila Bissoli, o surdo tem uma língua própria que não é a língua portuguesa. “O deficiente auditivo não fala: eu vou à casa de tal pessoa amanhã. Ele fala: amanhã, casa, tal pessoa. Ele não conjuga verbo, não usa preposição e não usa conjunção”.
No ano de 2002, o Presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei ordinária federal nº 10.436, a qual reconhece a língua brasileira de sinais, a Libras, como uma língua própria, diferente do português.
Existe ainda o decreto nº 5.626, de 2005, que regulamenta a Lei de Libras, apelido da lei 10.436. E ela diz, em seu Capitulo 2, no caput do artigo 8º, que: “As instituições de ensino da educação básica e superior, públicas e privadas, deverão garantir às pessoas surdas acessibilidade à comunicação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação”. Daí surge o primeiro problema.
A Lei somente no papel
Segundo Maria da Costa Pereira, intérprete de Libras, na maioria das escolas as aulas ainda são faladas. Isso dificulta a aprendizagem dos alunos com problemas auditivos, uma vez que necessitam de uma linguagem visual como gráficos, mapas e imagens. Maria diz ainda: “Para eles (deficientes) tem que ter uma adaptação da sala de aula e não há sequer uma sala de apoio para o contra turno.” A intérprete se refere à escola na qual trabalha, Maria Ortiz, localizada em Vitória.
Além disso, outra dificuldade encontrada pelos alunos é o desagrado de alguns professores que não aceitam o intérprete dentro da sala de aula. “O profissional intérprete sabe libras, mas não está preparado para estar na sala com um profissional que não o quer e, ao mesmo tempo, o professor não foi preparado para estar com intérprete ali do lado”, esclarece Maria.
Ainda sobre esse decreto que regulamenta a Lei de Libras, em seu artigo 8º, parágrafo 1º, inciso 1º, diz: “capacitar os professores para o ensino e uso da LIBRAS e para o ensino da Língua Portuguesa para surdos”. Segundo Maria da Costa, alguns professores não têm interesse em aprender ou conhecer a língua. “A SEDU (Secretaria de Educação) está dando curso, mas nem todos os professores têm interesse”.    
“O aluno especial é capaz de aprender”
Mesmo com todas as dificuldades e problemas encontrados, Maria se orgulha dos resultados que tem obtido com os alunos especiais. Eu até me emocionei num problema de física. Ele mesmo (o aluno deficiente) montou a fórmula. Ele já sabe a hora de multiplicar e de dividir. Isso mostra para o professor que o aluno especial é capaz de aprender, tira um rótulo”.
Ao ser questionada sobre o que precisa mudar no ensino dos alunos deficientes auditivos, Maria garante que deve haver parceria entre professores, pedagogos e intérpretes. Mas, sem sombra de dúvida, é primordial a aceitação dos profissionais de ensino. “Tem que dar oportunidade para a mudança, só assim podemos obter resultados.”

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Intercâmbio: o grupo que vem de fora

Muitos alunos de intercâmbio vêm ao Brasil para estudar. Estudantes de Moçambique, Guiné, Angola e de Países da América Latina aterrissam em nossas terras para aproveitarem uma oportunidade no ensino superior. Por que muitas pessoas nunca ouviram falar deles? Por que ficam restritos aos seus grupos e nós aos nossos?

A estudante Raísa, do curso de Administração, está há 6 anos no Brasil. Ela responde sobre o porquê da não interação com as outras pessoas. “Vocês conseguem interagir com a gente? Nós ficamos juntos pela afinidade que temos com a nossa língua. Estamos longe de nossas famílias e é natural a nossa união”.

Joselina, estudante de Comunicação Social, afirma que se formam as “panelinhas”. “Vocês não abrem espaço totalmente para quem quiser se integrar. É igual a nós. Vocês, em seus grupos na sala de aula, não percebem que fecham o círculo”. Ao ser indagada sobre preconceitos, a estudante diz indignada: “Já perguntaram se existe carro na África. Claro que existe. Outros pensam que não há avião e nem aeroporto. Eles perguntam como eu consigo chegar ao Brasil de carro. É um absurdo”.

Sobre a discriminação, a estudante Raisa diz: “A discriminação é pontual. É a que ocorre em qualquer lugar. Há uma ignorância muito grande sobre o que é a África. O mais comum é tratar cada país como se fosse o continente todo.” Ela ainda completa: “A África é composta por vários países, assim como o Brasil é composto por vários estados. Gostamos que as pessoas tenham uma visão correta do que é a África.”

Os intercambistas estão no Brasil através de um convênio que dura o tempo da graduação com um adicional de três meses. Eles participaram do PEC-G, um programa do Ministério da Educação que oferece oportunidades de formação superior a cidadãos de países com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. Não há o chamado vestibular para entrar em uma universidade aqui no Brasil. Eles fazem um exame nacional em seu país de origem, o qual serve como uma prova de admissão.

Em ano de Copa do Mundo, abordamos sobre a possibilidade deles voltarem para casa com o objetivo de assistirem aos jogos. Eles demonstraram estarem mais preocupados com a UFES. “E as aulas aqui?”, indaga um rapaz intercambista. Disseram ser mais fácil os brasileiros assistirem ao torneio na África do Sul, mesmo estando em outro continente. Um dos alunos relata que um conhecido de Angola, país vizinho de onde será realizado o torneio, está limitando os vistos de entrada.

Alguns já se acostumaram com a vida brasileira e não querem voltar para seus países de origem. Outros desejam voltar para suas nações porque há mais oportunidades. “Lá há mais oportunidade de emprego para pessoas graduadas”, diz um rapaz do grupo de intercambistas. Eles não concordam com o pensamento de que eles ocupam as vagas das nossas universidades e empresas, pois os brasileiros tiram a vaga de outras pessoas em diversos países. “E os jogadores de futebol? E a Gisele Bundchen? Você sabe quantos brasileiros vivem e trabalham fora do Brasil?”, indaga um intercambista sentado mais ao fundo.

Cabe a nós romper as barreiras que impedem a melhor integração dos alunos intercambistas. Eles trazem uma experiência de vida muito diferente, assim como é a nossa. E é muito interessante que sejam compartilhadas. O crescimento é mútuo.

Apuração por Flávio Soeiro, Reuber Diirr e Willderson Morais
Texto por Flávio Soeiro
Edição por Wilderson Morais

E os transferidos?

Os alunos transferidos encontram um novo ambiente pela frente. Será que eles passam por dificuldades? Como as pessoas veem os alunos transferidos de outras instituições? OO Grito entrevista o aluno Honório Filho, do curso de Comunicação Social, para descobrir como se desenvolve a vida desses estudantes em um meio novo, universitário e público, dotado de pessoas com pensamentos pré-concebidos.

OO Grito - Por que mudou de faculdade/universidade?

Honório - Surgiu a oportunidade na UFES. Aqui é federal, não paga e é mais próximo da minha casa.

OO Grito - Quais as dificuldades encontradas ao mudar de instituição?
Honório - Não encontrei muita dificuldade. A passagem foi normal.

OO Grito - Quais são os prós e contras de cada instituição?

Honório - Nenhuma é melhor que a outra. São diferentes. A particular tem mais estrutura... Na federal você tem uma vida acadêmica extra, grupos de estudo, extensão, pesquisa. E, mesmo considerando a UFES como uma federal, não considero como um diferencial, pois muitas empresas contratam mais aqueles que fazem a particular que eu frequentava.

OO Grito - Você acha que os alunos transferidos são discriminados?

Honório - Não exatamente. O fato que me incomoda é não fazer parte de nenhuma turma. Eu tenho aulas em turmas diferentes. Não participei, por exemplo, do trote, da matrícula, etc.

OO Grito - Você encontrou dificuldade de socialização com os demais estudantes?

Honório - Sim. No inicio é difícil, principalmente por não fazer parte de nenhuma turma. Você chega em uma turma já formada e fica perdido.

OO Grito - Houve acolhimento por parte dos colegas de sala?

Honório - Não houve acolhimento e nem exclusão. Em momento algum me trataram mal. Achei normal, como em qualquer lugar.

OO Grito - Você apresenta alguma dificuldade em realizar trabalho em grupo?

Honório - Comecei a fazer grupo com os próprios transferidos. Mas quando precisei me juntar com outras pessoas não houve tanta dificuldade.

OO Grito - Ao chegar na Instituição Federal, recebeu as informações necessárias sobre as atividades universitárias, através de algum órgão ou de algum funcionário?

Honório - Tenho que correr atrás das informações. Funcionários, alunos. Na particular é muito mais fácil. Tudo anotadinho, como o ensino médio. Vou na Prograd (Pró-Reitoria de Graduação) e dizem uma coisa, vou no departamento e dizem outra.

OO Grito - Você já foi vítima de preconceito ou já presenciou algum?

Honório - Em relação ao fato de ser transferido, não.

OO Grito - Em relação aos professores, há diferença quanto ao tratamento dado aos alunos transferidos e aos não transferidos?

Honório - Absolutamente não.


Por Flávio Soeiro, Reuber Diirr e Wilderson Morais

Cinema ao alcance de todos

Por Raquel Malheiros


O cine clube Lima Barreto é um projeto o qual possibilita que o cinema e demais produções audiovisuais cheguem até as pessoas que não possuem acesso a esses meios de entretenimento e cultura. Sem fins lucrativos, o cine clube apresenta projeções públicas e gratuitas, possuindo uma estrutura democrática, compromisso social, cultural, educativo e ético. O projeto surgiu nos anos 80, no bairro Santo Antonio em Vitória, pela iniciativa de um grupo de jovens da comunidade. Antigamente, eram exibidos filmes em película, emprestados pelo Centro Cultural Carmélia de Souza, e exibidos na Igreja Matriz do bairro.

Durante um longo período, as exibições eram feitas com equipamentos obsoletos e até deixaram de acontecer, já que não possuíam ajuda financeira de nenhuma instituição ou órgão do governo. Somente no ano de 2009, com a ajuda de incentivos federais e da Associação Brasileira de Documentaristas e Curtas Metragistas do Espírito Santo (ABD Capixaba), as exibições voltaram a ocorrer.

Com o objetivo de cumprir o seu lema “Cinema ao alcance de todos”, o cine clube mudou seus locais de exibições. As apresentações ocorrem todos os sábados a partir das 19h na praça Stela Coimbra ou no CMEI Darcy Vargas, no bairro Santo Antônio, em Vitória. Essa alteração permitiu que um maior número de pessoas tenha acesso às várias produções, sendo elas curtas, longas, animação, cinema brasileiro e internacional. Os organizadores do projeto Mauro Ribeiro e Rogério Caldeira explicam que, além de possibilitar o acesso das pessoas ao cinema, uma das propostas do cine clube Lima Barreto é criar cine clubistas para acompanharem e atuarem nas sessões. Mauro acrescentou: “Acredito que as pessoas não são escolhidas, mas sim envolvidas pelo projeto”.

Aos poucos, o trabalho desenvolvido por Mauro e Rogério vem trazendo resultado. “Na praça, temos em média de 50 pessoas”, afirma Rogério Caldeira. O casal André Camargo e Alessandra Gusmão também acreditam na importância do projeto. “É um olhar diferente, a tela para os sem tela” disse André. A auxiliar de serviços gerais Iná de Assis, que freqüenta sempre que possível as exibições, comenta que ainda falta divulgação. “Deveria ser mais divulgado, têm pessoas que não sabem do cinema na pracinha.”

Os organizadores explicam também que a escolha dos filmes passa pelo consenso do cine clube e da ABD capixaba. A divulgação, quando possível , é feita por cartazes, e-mails e durante as vinhetas nas próprias sessões. As dificuldades para as exibições são, geralmente, as condições climáticas e mão de obra.



Caso você se interesse pelo projeto cine clube Lima Barreto e queira participar entre em contato com seus organizadores pelo email cineclubelimabarreto@gmail.com ou nos telefones:
(27) 3322-5139
(27) 3222-5334
(27) 9816-1621
(27) 9949-0431


sábado, 8 de maio de 2010

Alunos especiais: integrar para socializar - Parte 1

Por João Carlos Fraga


Sendo o respeito ao ser humano um dos valores do governo do Espírito Santo, pessoas com necessidades especiais não poderiam ser excluídas.


A Secretaria de Educação (SEDU) tem a iniciativa de integrar alunos especiais e alunos não especiais na mesma sala de aula. Esse trabalho vem sendo feito com todos os tipos de deficiência, como diz a responsável pela Educação Especial da SEDU, Edna Motta. “As escolas do estado atendem todos os tipos de deficiência como os deficientes auditivos, deficientes visuais, transtornos como autismo, síndromes, cadeirantes e doenças físicas severas”.

Edna Motta esclarece que, antes de 2008, esses alunos eram retirados de sala no horário de aula para receber reforço. Isso causava perda do conteúdo lecionado e de socialização. Além disso, os alunos especiais eram alvo constante de piadas. Hoje, o reforço é realizado no chamado “contra turno”, que é o atendimento especializado em cada necessidade para a aprendizagem fora do turno matriculado. “No contra turno, nosso objetivo é dar um atendimento especializado para esses alunos naquela deficiência que ele tem. O único que atendemos dentro do próprio turno é o deficiente auditivo, porque enquanto o professor fala, o intérprete vai traduzindo”, diz.

Antes também, o governo possuía poucos professores e profissionais especializados. Atualmente isso foi corrigido através da contratação de profissionais recém-formados, como enfermeiros e técnicos de enfermagem.

Enquanto isso dentro das escolas...

Mesmo autorizado pela superintendência de educação de Carapina, setor que cobre as escolas estaduais de Vitória, a Escola Arnulpho Mattos, no bairro República, em Vitória, não autorizou o repórter do blog OO Grito a conversar com nenhum funcionário da escola. O repórter João Carlos Fraga não encontrou nenhum funcionário especializado no local. A coordenação informou que esse tipo de trabalho iria começar em breve, já que a funcionária responsável é nova na escola.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A fala do Ouvidor



Por Reuber Diirr e Wilderson Morais


Esta semana a entrevista é com o Ouvidor da Universidade Federal do Espírito Santo, o Prof°. Dr°. Carlos Vinicius Costa de Mendonça. Em um bate-papo, o Ouvidor esclareceu as funções de seu cargo, bem como as medidas tomadas para manter a funcionalidade e a ordem da autarquia. O Drº Carlos Vinicius conversou com a equipe do OO Grito explicando os diversos casos que ele deve analisar cautelosamente.

OO Grito: Como funciona a Ouvidoria?
Ouvidor: A Ouvidoria serve de elo de ligação entre as pessoas. Ela ouve a reclamação de ambas as partes, preservando-os. A função do Ouvidor é zelar pelo bom funcionamento da Universidade, seja no sentido político, seja no sentido moral. Quando um aluno ou professor vem à Ouvidoria fazer alguma queixa, o papel do Ouvidor é ouvir e fomentar uma conciliação entre as partes. A Ouvidoria tem a função de buscar atenuar as divergências que acontecem e, dessa maneira, manter as relações cordiais dentro do campus.

OO Grito: Como a Ouvidoria vê os grupos marginalizados na UFES? Exemplos: gays, emos, alunos de intercâmbio.
Ouvidor: A ouvidoria representa a instituição (UFES) e não tem interesse em fazer juízo de valor. Não existe na Universidade uma perspectiva de fazer leituras diferenciadas. Mas tais grupos sentem um peso maior, não exatamente uma marginalização. Entretanto, a ouvidoria não vê distinções.

OO Grito: A Ouvidoria já recebeu reclamações sobre homofobia, discriminação racial?
Ouvidor: Tais assuntos ainda não estão bem discutidos na sociedade. É evidente que determinadas posturas causem impacto. Tanto posturas heterossexuais quanto posturas homossexuais. Professores, principalmente os mais antigos, reclamam de demonstrações de afeto dentro das salas de aula. É evidente a complexidade do amor humano. Mas, para o ambiente ficar razoavelmente sociável, devemos ter normas e a Universidade, como meio acadêmico onde devemos pensar, sentir e agir, não sendo o lugar apropriado para tais atos de afetividade. Em relação à discriminação racial, não há muitos casos. O mais evidente é o assédio moral. Um professor veio à Ouvidoria reclamar sobre duas alunas que trocavam afetos em sala de aula. A Ouvidoria escutou as meninas que argumentaram ser de direito a troca de afetos, todavia, há lugares para tais atos serem realizados e a sala de aula não são apropriados.

OO Grito: O senhor já analisou reclamações de racismo?
Ouvidor: Já, mas pouco! Hoje não tanto mais. Pouco racial. O assédio moral é maior. O assédio moral está ligado nas relações que se tem com as pessoas, seja durante o trote onde um veterano extrapola os limites dos calouros.

OO Grito: Como a Ouvidoria vê o comércio dos ambulantes no campus da Universidade?
Ouvidor: A Universidade é pública e não pode excluir as pessoas de entrarem, entretanto, o público não significa ausência de gestão. As pessoas que exercem atividade comercial têm certa permissão de vender seus artesanatos. O problema existencial é o comercio ilegal.

OO Grito: Professor, em relação às drogas, qual a atitude que a Ouvidoria exerce sobre tal fato?
Ouvidor: Veja bem, isso não cabe à Ouvidoria. É um assunto que vocês podem obter mais informações com a segurança da Universidade. Nunca ninguém veio aqui reclamar sobre isso. Nem um traficante, nem um usuário (risos). Está ligada à Prefeitura da Ufes. Nós tínhamos um problema muito sério de vendas de passes dentro do campus, que era um problema complicado, todavia, já foi solucionado.

OO Grito: Sabemos que a Ouvidoria é contra o trote. Apesar disso, eles acontecem. O senhor recebe muitas reclamações por causa de tal atitude ilícita?
Ouvidor: Recebemos muitas reclamações. Existem resoluções na Universidade que proíbem o trote. Tais resoluções surgiram a partir de efeitos danosos nos alunos, danos físicos e psicológicos. A Universidade já foi processada por causa dos trotes. É proibido qualquer tipo de manifestação que represente uma violência física ou simbólica.

OO Grito: Qual a atitude que a Ouvidoria toma com os alunos infratores (que efetuam o trote)?
Ouvidor: O trabalho da Ouvidoria é de mediação. Nós mediamos. Há trotes em que os alunos dos cursos se vestem de travestis, circulando pela Universidade, ou vestidos de bebê, com fraudas, também há os alunos que pedem esmola; nós punimos de acordo com as resoluções vigentes. Já vi aluno chorar por causa de trotes. Tal ato ilícito se assemelhava aos campos de concentração no Afeganistão, era algo brutal, principalmente nos Centros Técnicos. Infelizmente, existem pessoas que têm prazer em humilhar os outros. Pais já ligaram reclamando da violência que seus filhos sofreram.

OO Grito: O Senhor é a favor dos trotes que são apenas brincadeiras, sem violência?
Ouvidor: Não. A Instituição deve construir uma recepção apropriada, construir uma sintonia com os Centros (Acadêmicos) no sentido de uma recepção lúdica. O ato do trote é algo medieval. Uma sociedade atada aos atos antiquados. A interface entre as brincadeiras somente para socializar e o autoritarismo são tênuas, ou seja, sugerem certa acepção à violência. Por essa razão, o trote é proibido na Universidade.



domingo, 25 de abril de 2010

Com AIDS é possível viver, com o preconceito não!

Por Lila Nascimento e João Carlos Fraga

O preconceito, para os portadores do vírus HIV, é algo que persiste desde os primeiros casos no Brasil na década de 80 até os dias atuais. Esse é o caso de Helena Almeida*, que contraiu a doença do marido há 19 anos e desde então é discriminada. “Certa vez fui almoçar na casa de uma amiga e, logo após a refeição, ela quebrou o prato, os talheres e o copo porque ninguém mais poderia comer ou beber neles.” Segundo a farmacêutica Francielle Vieira, isso acontece com frequência porque, mesmo com todas as informações e campanhas do governo, ainda há pessoas as quais pensam que podem contrair AIDS através de contatos físicos como o abraço e o aperto de mão e a saliva, como foi o caso de Helena.

Na contra mão dessas pessoas que têm preconceito, podemos citar o jornalista Zeca Camargo. No fim dos anos 80, quando era correspondente internacional do Jornal vespertino Folha da Tarde, entrevistou o cantor Cazuza em Nova York. Zeca conta no programa da Globo, Por Toda Minha Vida, exibido em março de 2009, que o cantor o desafiou a beber vinho na mesma taça que ele. “Cazuza imediatamente acendeu um cigarro e pediu vinho. O vinho chegou e ele se serviu e perguntou se eu queria tomar com ele. Respondi que sim e ele ofereceu da própria taça. Imediatamente eu tomei”.

“Não pedi para ter o que eu tenho”

Carolina da Silva* contraiu a doença da mãe. “Ela usava drogas e não sabia que era soropositivo quando engravidou de mim.” A jovem descobriu que era portadora do vírus HIV apenas quando estava com cinco anos. Apesar disso, nem sua família a poupou do preconceito. “Não acho justo eles terem preconceito comigo”. Carolina conta que, na infância, quase foi expulsa do colégio em que estudava devido ao preconceito das outras crianças e de seus pais. Mesmo com todos os percalços, ela se considera uma garota feliz. “Meu melhor amigo é Deus”, diz emocionada.

Governo incentiva campanha contra o preconceito

Segundo o psicólogo Luiz Fernando Magalhães, os portadores da AIDS sofrem mais com a rejeição e o preconceito do que com a própria doença. Por isso, o tema da campanha do Ministério da Saúde para o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS em 2009 foi o preconceito. O slogan escolhido “Viver com AIDS é possível. Com o preconceito não” enfatiza que quem vive com o HIV pode estudar, trabalhar e namorar como qualquer outra pessoa.

O material da campanha está disponível nos links abaixo:




*Os nomes foram alterados para a preservação das identidades das fontes.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Cremos no poder do indivíduo em superar suas próprias fraquezas" diz coordenador de projeto social


O entrevistado desta semana do blog OO Grito é o vice-presidente do Lar Batista Albertine Meador, Fernando Reis. Esse projeto acolhe crianças, adolescentes e jovens do sexo feminino em situação de risco social. Alem desse projeto, há outro em planejamento, o Projeto 19, que tem o objetivo de promover a prevenção ao risco social, nas comunidades em que se verifica o alto índice de desvio de crianças e adolescentes destes riscos.


OO Grito:  O que é e em que se baseia o projeto?
Fernando Reis: Nossa área geográfica de atuação é o município de Serra. De fato, o projeto não está voltado exclusivamente ao tratamento dos jovens usuários de drogas. Na verdade, atuamos acolhendo crianças, adolescentes e jovens em situação de risco social. Atualmente, o risco social está intrinsecamente ligado ao tráfico e/ou uso de drogas ilícitas ou lícitas, não somente no município; é uma realidade nacional.
No que se refere ao tratamento de residentes que estejam enfrentando o problema das drogas, oferecemos tratamento médico, psicológico, espiritual e conforto material, a fim de que possam se livrar do vício. Entendemos sempre o ser humano em sua plenitude, um conjunto matéria-alma- espírito (nem sempre nesta ordem, valha-me Marx!)
 
OO Grito:      Quando e como surgiu?
Reis: Completamos 60 anos de atuação ininterrupta em setembro de 2009. A instituição foi criada no âmbito da ação social cristã da Igreja Batista de Vitória, para atender uma comunidade carente em Vila Velha, nos idos de 1949, quando as necessidades eram outras. Um grupo de senhoras da igreja resolveu adotar uma comunidade afastada que carecia de cuidados básicos.

OO Grito:      Quem são os beneficiados?
Reis: Atualmente são 24 crianças e adolescentes entre 0-18 anos incompletos. Além delas, cerca de 50  outras pessoas adultas que atendemos no programa de reintegração familiar.

OO Grito:  Quem são os coordenadores?
Reis: Temos como presidente o Pastor Abel Scabello, 57 anos de idade e membro do conselho do Lar desde 2003. Eu sirvo como vice-presidente desde 2008 e estou no conselho desde 2004. Somos um total de 10 conselheiros, todos voluntários.


Adotamos a profissionalização de nossos serviços-fim. Para isso, desde 2006 temos uma equipe técnica full time e paga com os recursos da própria instituição. Nossa coordenadora geral é a Assistente Social Karla Mendes. Temos ainda na área de psicologia a Psicóloga Roberta, e á frente da área de assistência social, a Assistente Social Cíntia Lovati.


Contamos com uma área administrativa e de apoio, além das profissionais de atendimento pedagógico, de atenção intensiva, educadores e parcerias na área da assistência médica em geral. Porém, acolhemos com carinho e incentivamos o trabalho voluntário das dezenas de pessoas que se dispõem a cooperar conosco nas mais diversas áreas, em especial à atenção individualizada às menores residentes.

OO Grito:      Como o projeto se mantém?
Reis: Somos um dos projetos subsidiados pelo Estado, representado aqui pela Prefeitura Municipal da Serra. Hoje, cerca de 75% de nossos recursos financeiros para atendimento básico às internas vem da PMS através de sua Secretaria de Promoção Social. Além disso, recebemos doações econômicas vindas de parceiros como o Mesa Brasil, do SESI (alimentos). Algumas empresas patrocinam ações pontuais e/ou contínuas. Também contamos com igrejas cristãs que colaboram mensalmente conosco, seja através de doações de bens, seja contribuição financeira.

Finalmente, captamos recursos através de projetos que fazemos com fins específicos junto a patrocinadores como bancos, empresas estatais, e outras do setor privado.


Como instituição do terceiro setor, temos todos os certificados da área, registros nos órgãos de controle, e toda contabilidade em dia. O Ministério Público é nosso interlocutor com freqüência.
 
OO Grito:      Por que ajudar essas pessoas?
Reis: A vocação da instituição, desde sua nascença, tem sido “investir em vidas”. Cremos que todos fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Cremos no poder do indivíduo em superar suas próprias fraquezas (circunstanciais ou não). Temos visto, ao longo de anos, a superação do indivíduo a dificuldades mais diversas.


Sabemos que as drogas atuam no mais difícil território para recuperar, o cérebro, o sistema nervoso como um todo. Ao mesmo tempo, sabemos por experiência que se tratarmos o indivíduo com a estratégia ideal, com os cuidados direcionados, este sujeito poderá se recuperar e tornar-se cidadão com todos os direitos e deveres, útil à sociedade, protagonista de si mesmo, testemunha de que é possível ir adiante mesmo tendo conhecido o inferno.


OO Grito:      Você acha que o poder público é omisso em relação aos dependentes químicos?
Reis: Não. Existem ações contínuas em relação ao problema, patrocinadas e/ou incentivadas pelo Estado. O que ocorre é que a velocidade do Estado, ou do “poder público”, deixa a desejar em face das urgentes demandas deste público ‘dependente químico’. A velocidade que menciono é em relação a tudo: pesquisa, evolução, rede de atendimento, atividades de prevenção, processos licitatórios, percepção do custo invisível que está vinculado à utilização da rede de saúde pública de maneira intensiva e inadequada etc.

Neste contexto, entram as ONGs e OSCIPs, cujo trabalho deveria proporcionar tal velocidade em parceria (e nunca em substituição) ao ‘poder público’. Acredito que esta dita omissão é enxergada pela sociedade como um espelho de si mesma: seria ótimo que o Estado pudesse substituir a sociedade (conjunto de nós todos) na prevenção e cuidado que o problema apresenta e requer. Isso é mito: jamais o Estado conseguirá substituir a própria sociedade na resolução das questões vinculadas ao uso – e abuso - de drogas lícitas/ilícitas.


Um ponto importante a refletir é que os agentes estatais (representantes do Estado), via de regra, devem se dedicar ao movimento político em meio a todos os trabalhos demandados pelos cidadãos. Tal movimento traz consigo o natural interesse deste agente, que na maioria das vezes tem seu horizonte nos próximos 4 anos. As atividades das quais estamos falando, não podem (não deveriam) sofrer solução de continuidade mesmo nas políticas e diretrizes de atendimento.


Muitas vezes, isto também está à mercê do interesse temporal vinculado ao agente político. É errado imaginar que somente o público-alvo sofre com esta realidade: todos, como sociedade, sofremos, direta ou indiretamente, as conseqüências do sistema.

OO Grito:      Quais as dificuldades encontradas pelo projeto?
Reis: Dificuldades vinculadas ao apoio da rede de atendimento são as mais sérias, no contexto da efetiva prestação de serviços que fazemos. Na área de recursos financeiros, a dependência ainda muito grande do Estado, é sempre – em nossa avaliação – um risco e temos trabalhado para diminuir esta dependência.

OO Grito:      O projeto recebe apoio da comunidade?
Reis: Sim, somos constantemente apoiados pela comunidade, temos uma relação de cooperação com nossos vizinhos, somos gratos a isso.
  
OO Grito:  Como o jovem é inserido no projeto?
Reis: Todas as internas são encaminhadas pela Justiça através das Varas da Infância e Juventude do município. Quando é o caso de dependente químico, oferecemos o tratamento.
 
OO Grito:  Como se dá a inserção do jovem na sociedade?
Reis: Tratamos as residentes da forma mais normal possível, todas tendo acesso a escola, vida social, educação, acompanhamento psicológico, médico etc. A equipe está sempre atenta a situações individuais e estamos preparados para qualquer necessidade especial que possam requerer. De acordo com a avaliação individual, são encaminhadas para atividades sociais dentro de seu espectro atual de vivência.

OO Grito:  Qual a situação psicológica do jovem quando entra e quando sai do projeto?
Reis: Varia muito, mas em geral quando chegam, as adolescentes estão assustadas, feridas, retraídas, algumas revoltadas e rebeldes. Doentes da alma, com a motivação destruída, ‘duvidando do mundo’. A saída do projeto geralmente está condicionada ao retorno à própria família progenitora, ou à adoção.


Na maioria das vezes temos tempo de tratar a pessoa, e quando é este o caso, podemos afirmar que reconstruímos sua atitude em relação ao mundo. Uma atitude positiva e de protagonismo em relação a si mesma. Um bom recomeço. Porém, nem sempre é assim, e temos casos de recaída ou casos em que o futuro da egressa não está assegurado.
 
OO Grito:  Conte-nos alguns casos interessantes de pessoas ajudadas pelo projeto
Reis: Recentemente, recebemos a visita de uma egressa que esteve conosco por 3 anos. Ao final de sua internação foi aprovada para um curso superior em Universidade Pública (oferecemos, em parceria com uma Instituição de ensino, o chamado “cursinho”). Esta egressa hoje é professora e constituiu família.

Outro caso foi de uma egressa, para a qual conseguimos um emprego compatível com suas habilidades, pouco antes de ela deixar a instituição. Passados uns 6 meses, ela esteve conosco novamente, para contar as novidades: saiu do emprego, juntou-se a um rapaz motoboy, está grávida e “feliz”.


Para 3 irmãs que chegaram ainda muito jovens, conseguimos tramitar uma adoção internacional para todas juntas; estão na Itália e gozam de saúde e paz, se correspondendo conosco periodicamente, com a participação dos pais adotivos.


A lição é clara: o que farão de suas vidas, não sabemos, não podemos ter certeza. Buscamos oferecer a todas elas uma visão clara de que é possível fazer diferente, existem outros caminhos e caberá a elas a escolha.
 
OO Grito:  Qual sua posição sobre a legalização das drogas?
Reis: Por principio, sou contra a legalização das drogas. E vou além: as drogas hoje lícitas deveriam ser muito mais fiscalizadas, porque são porta de entrada para o vício evolutivo até as drogas mais pesadas e destrutivas. Confiar apenas na ‘vontade individual’ do ser humano é escolher ser inocente, é desconhecer a força econômica dos cartéis da droga (bebidas alcoólicas incluídas).

Um programa amplo de educação que jamais terminasse, voltado a todas as populações jovens (e não somente às camadas sociais ditas ‘menos favorecidas’), educando-as em relação ao consumo de drogas e seus efeitos, poderia surtir efeito em uma geração, ou seja, num horizonte de 30 anos.

Ao mesmo tempo, as políticas públicas aliadas das comunidades, tendo como centro a valorização do próprio espaço comunitário local para a solução dos problemas daquela comunidade em questão, poderia ser uma boa iniciativa para coibir as tentativas dos traficantes de ‘dominar a área’. Isso, infelizmente, dá muito trabalho e nossa sociedade prefere dizer que o ‘poder público é omisso’.


Enquanto isso, varremos para debaixo do tapete os horrores da omissão, que é nossa. E colocamos nas manchetes dos jornais que lá em José de Anchieta traficantes mataram mais um. “Ah que violência absurda! Secretário Rodney, que absurdo!”  - e por aí vai.

O problema não é que as drogas sejam ilegais: o problema é que não queremos ter o trabalho de educar. Custa tempo/dinheiro/emoção/amor, bens escassos na era do século XXI, pobres de nós todos.

Eles não querem abandono

Até 2025, o Brasil será o sexto país no mundo com o maior número de pessoas idosas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Hoje, o país conta com 14,5 milhões de idosos, 8,6 % da população do país (dados do IBGE). Parte deles está distribuída em asilos, alguns abandonados pela família.

A fisioterapeuta Priscila Alves Gomes, 29, trabalha no asilo Sociedade de Assistência à Velhice Desamparada há dois anos. “Por se tratar de uma instituição pública, sobrevive de doações e para que o idoso possa entrar é necessário que ele receba o benefício da aposentadoria e, mesmo assim, não conseguem comprar os próprios remédios”, diz a fisioterapeuta. Ao perguntarmos sobre o que mais falta no local, ela responde que é necessária mais verba para melhorar as condições dos idosos. Priscila também afirma que muitos residentes não recebem visitas dos familiares.

A infra-estrutura do asilo é boa. Possui refeitório, dormitórios femininos e masculinos, enfermaria, capela, cozinha e diversos outros cômodos. Tudo em bom estado. Apesar disso, a fisioterapeuta é enfática: “Ainda falta muita coisa. Vocês deveriam visitar um asilo particular, lá é muito melhor”.

Conheça os moradores do local

José Firmino, 80, mora no asilo há 18 anos. “O tratamento aqui é muito bom e todos são amigos”, diz José. Ele diz que o passatempo dos moradores do asilo é conversar, assistir televisão, jogar baralho ou dominó. Algumas vezes o asilo realiza passeios para os idosos. Os lugares visitados são o Convento da Penha, Guarapari e outras localidades. O senhor ainda relata que o idoso sofre preconceito pois perde a autoconfiança, deixando de fazer as coisas por si só.

Marconde é natural de Ilhéus, Bahia. Pescador de profissão, lembra perfeitamente a data em que chegou ao asilo, 23/03/2005, portanto já faz cinco anos. Sua idade atual é de 80 anos. “Sou uma pessoa quieta e calma”, diz ele. O passatempo predileto do senhor é jogar dominó. Assiste pouca televisão. O que mais gostaria de fazer é poder pescar novamente. “Não posso pescar, o médico proibiu”, diz ele. Na opinião de Marconde, os idosos são muito discriminados pois, às vezes, não conseguem fazer muitas coisas sozinhos.

Laira Gonçalves, 29, estudante de Administração, foi pela primeira vez visitar seu avô, Júlio Nunes Gonçalves. De acordo com ela, Júlio foi deixado no local por necessidade, pois ele vivia com uma tia que possuía problemas de saúde e não tinha condições de ajudar e cuidar dele. Ela relata também que desde que seu avô chegou ao asilo na quarta-feira, dia 14 de abril, ele diz que é melhor viver por ali. Laira comenta que o tratamento desigual dado aos idosos é originado pelo sistema capitalista. “Como os idosos não conseguem mais produzir, eles são afastados para que não possam atrapalhar as pessoas que ainda podem exercer algum trabalho”, diz a estudante.

A estudante de Ciências Contábeis, Mariana Melo, 18, diz que nunca deixaria sua mãe em um asilo: “Ela não iria gostar de lá. Acho que ela não merece isso. O lugar dela é com a família”. A jovem ainda relata que pagaria alguém para cuidar de sua mãe em casa, se fosse necessário.

Nossa equipe de reportagem proporcionou muitos sorrisos aos idosos do asilo. Tudo através de simples conversas, um pouquinho de atenção prestada. Recomendamos uma visita à Sociedade de Assistência à Velhice. O horário é das 14:00 às 18:00, de segunda à domingo.

Endereço: Rua Anselmo Serrat, 250, Jucutuquara, Vitória – ES (atrás da FAESA, campus de Jucutuquara)
Telefone para contato: 33232929 (informações e doações)


Por Flávio Soeiro e Wilderson Morais
Fotos por Wilderson Morais